Se eu não
escrevesse esta história talvez ela fosse diferente. Ainda vou a tempo de a
deixar morar no silêncio onde sempre viveu. É aí que vivem muitas das mais
extraordinárias das histórias (não é o caso desta), no silêncio, na lareira imensa
dos lumes brandos dos arrependimentos. Há um antagonismo crónico para com os remorsos,
e ele é velho como são aquelas árvores milenárias
feitas de madeira oca. Mas as coisas só valem a pena se, por trás, num canto
qualquer de sombra, um arrependimento repousar roendo a alma, relembrando-lhe
que tudo vibra no limbo do seu limite quando nos deparamos com uma escolha. E
que tudo tem um eco próprio e um eco em negativo.
Mas aqui estou, e
o dilema já não se coloca, pois o relato seguirá após esta atabalhoada
introdução.
Não há muito a
dizer, aliás, se calhar, se nada disser a coisa explica-se por si mesma.
Havia quadros por
pendurar numa sala e as paredes já enlouqueciam. Uma janela enorme pedia voos
largos de pássaros. Fim.
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