um poema que é mentira

um poema que é mentira
pois não se agarra o que é autêntico
ele tem coordenadas presas ao tempo
esculpido em cronos
feito pó poeira e bruma no instante seguinte

um poema que é mentira
como o são todos pois vivem na memória etérea
nas ruinas de uma lembrança

versos que não são mais
mesmo que lidos de novo porque a voz faz-se eco
e o eco extingue-se em murmúrio

poesia que é dúbia
que as certezas são feitas de ilusão

um poema que é mentira
num mundo de tanta verdade
resiste no embuste como símbolo solitário de exatidão

um poema que é mentira
e por isso
livre