Os lugares dos silêncios
Os bolsos profundos de casacos que já não usas, gavetas que não abres, o interior do carro em dias de trânsito e chuva, as lembranças de tudo o que não viveste, os templos distantes de lugares que não conheces e, sobretudo, uma cama sem ti.
Bolsos cuja solidão é tão densa que as mãos ocasionais se perdem no mais profundo dos breus. Por lá deambulam nos outonos, remexendo umas moedas ou uns rascunhos esquecidos de um versos desalentados. A mesma aura de penumbra paira à volta das gavetas que nunca se abrem e onde dormem cadernos tatuados de breves inspirações, e a mesma mudez autista sobra no interior de um carro no trânsito habitual. As lembranças do que nunca aconteceu respiram o mesmo ar e os templos distantes de terras às quais nunca foste padecem do mesmo sopro brando.
Uma cama sem ti também.
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