Numa madrugada mais em que se afundava no canto escuro do café do costume, ouviu dois homens a conversar junto ao bar. Nunca os tinha visto antes e quando entraram sacudindo as cabeças molhadas da chuva, reparou que vestiam igual por baixo das gabardinas: fato negro, camisa branca coçada do uso e uma gravata fina de nó aberto.
Pausadamente e já com um copo à frente, cada um dos homens ia falando à vez. Falavam de um encontro que ia acontecer mais tarde, no outro lado da cidade num prédio devoluto. Mencionaram um conclave de outros homens que se juntariam para uma eleição.
Não chegou a perceber exactamente do que se tratava, provavelmente porque já tinha bebido demais e, no fundo do café, na mesa de sempre, ele e a cadeira já eram um mesmo corpo inerte e abandonado. De qualquer forma, imaginou esses outros homens vestidos de igual no outro lado da cidade. Deixou-se afundar ainda mais no canto escuro do café do costume.
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