dia 291

fugiu o poema
como uma sombra no inverno
sugada pelo frio da noite e do sono

revela-se depois
espreguiçando na manhã de outono

a história do que não se escreveu dava para encher uma mesinha de cabeceira
mas por vezes somente os óculos de leitura lá moram
e se calhar um despertador a pilhas 
que nunca se gastam
como se agarrassem a existência a cada segundo silencioso

não
já não me lembro dos relógios a corda nem das botijas de água quente
nem das camadas de mil cobertores sobre o corpo nocturno
o passado já não suspira
já só jaz 

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