tinha um rosto de quem engoliu muito sol muito sal e muito mar
os olhos perdiam-se no fundo das rugas e tremiam levemente quando falava
reluziam como aquelas pequenas estrelas longínquas nas noites sem nuvens
o que dizia era sempre muito profundo e definitivo
monólogos de quem já tudo viu tudo fez e tudo sabe
ou quase
todos o ouvíamos com a atenção possível do momento
o sono pesava o álcool acabara faz muito e a chuva não ajudava
mas lá o ouvíamos
e o homem falava
dizia coisas incontestáveis que carregavam o peso das grandes verdades
quando se calou alguém perguntou
já está?
esperou algum tempo antes de responder
até que disse antes de se calar de vez nessa noite
vai-se estando