assim
na absoluta quietude do que já foi
daquilo do que definitivamente já não é
na tempestade silenciosa da escuridão
no tecido do mais profundo breu
(onde a noite é tão espessa que nem a luz da infinidade de estrelas existentes penetra)
jazes na solidão de tudo
e a paz é isso, a ilusão de que o que sentes paira como um rumor leve sob as águas do teu próprio lago
então um verbo nasce-te na língua e nas mãos
alcançar
é um verbo que não o é
uma intenção abstracta
uma possibilidade
uma hipótese
um se
um gesto por desenhar
um sonho portanto
e nas palavras cumpre-se, ficando ainda assim aquém, como é de sua natureza
de outra forma não poderia ser
e já nem de ti depende
porque neste pasmo derradeiro reside a verdade final de tudo
o verso preciso que remata a tua alma
e mesmo que não o saibas ler ou dizer
em ti se pronuncia como um tremor vindo de uma esquina por descobrir e dobrar
percorrendo todo o teu corpo
um estremecimento tal que mesmo estando tu quieto
a silhueta da tua sombra estremece no contraste das paredes nuas da sala
e aí ecoa vibrando e desvanecendo muito devagar como um peão que rodopia até se calar
assim.
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