dos solos

os velhos hábitos são teimosias disfarçadamente inatas
são o erro recorrente de se fazer uma mesma coisa esperando um resultado diferente

mas fazem parte do que somos
e quando o chão se torna estéril a culpa não é da semente nem do lavrador

sim, o lavrador poderia ter tido mais cuidado
e sim, a semente poderia ter tido um outro vigor
mas quando o solo se esgota não há cuidado nem vigor que dêem fruto

mas nem a semente perdeu a promessa que carrega
nem o lavrador perdeu o sonho de colher

apenas precisam de outros solos

e outros solos buscarão nesse velho hábito de errarem
de inequivocamente serem eles próprios

e a fruta terá outro sabor e portanto outra fruta será
e o lavrador outra colheita fará portanto outra pessoa tornar-se-á

e do solo brota sempre a verdade
mesmo feia quando o é
mesmo triste
mesmo nada quando dele nada nasce mais

resta a única certeza absoluta
mais cedo ou mais tarde
ao solo, semente e lavrador voltarão


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