a estrada estende-se para lá da própria solidão
como se o caminho sorvesse quietude até que sobre somente
um esquecimento do que foi um eco
lembro-me bem
de como muitos se lançaram na rota
uivando como lobos sob a maior das luas
para depois se esfumarem num nevoeiro sem memória
como se nunca tivessem existido
porque os que os viram partir se desviveram também eles
e porque a viagem os apagou a cada passo
os franceses têm uma palavra para estas coisas
néant
menos que nada
ou um nada tão nada
que de ter dado a volta a si mesmo
uma inânia se tornou
e a estrada
por vezes
assim espraiada até ao longe do longe
é um abismo
um afastamento ensimesmado
uma singularidade como lhe chamam os físicos
por vezes
quando escrevo e é noite
e ela dorme lá dentro
e a vida espera por mim amanhã
sonho em fazer-me a essa estrada
não para que me anule e silencie
mas precisamente o contrário
para que eu seja o primeiro a lá chegar
ao outro lado e poder fazer o que mais importa em qualquer viagem
regressar
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