o mar de pequenos nadas

foi dito
e é sabido
que existe no universo mais espaço vazio do que preenchido
entre os átomos e as moléculas
os elementos e em todo o infinitamente pequeno existe o limbo da matéria
o mar de pequenos nadas

explicam
aqueles que sabem
que nada verdadeiramente se toca
mas ainda assim
a nossa humanidade sabe bem que algumas coisas se tocam
têm forçosamente de se tocar

se não como se explicam os estremecimentos da alma
os assombros do espírito
as vertigens profundas dos seres

e não
o campo eletromagnético não explica tudo
tem de haver uma onda invisível e indizível que percorre o tecido do mundo e da existência
tem de haver poesia nos olhares que nos arrebatam e apenas as palavras certas a podem nomear
tem de viver algo nos gestos de carinho ou na promessa dos mesmos
até mesmo no adiamento do afago que quase desenhamos

a certeza inabalável de que nesse espaço vazio onde nada vagueia haverá um rumor feito de outra voz
um eco cuja vibração não se mede com nenhum aparelho que não seja a rendição do corpo perante a promessa da beleza momentânea de cedermos
de sermos mais que nós mesmos
ou talvez
de deixarmos de ser o que quer que sejamos para passarmos a ser uma outra coisa


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