o obituário adiado

ao passares junto ao portão de ferro do cemitério
espreitaste lá para dentro a medo
e viste nesse jardim de silêncio
campa sim campa não
as velas a luzir nos intervalos do negrume da madrugada
alumiando em soluços de brilho fosco
os epitáfios e os retratos sépia de quem por lá repousa

enquanto as mãos apertavam as grades frias e húmidas da entrada
e o teu olhar espiava essa pequena necrópole
uma voz rouca atravessou a noite

amigo
não se debruce tanto nem se apoie demasiado
olhe que cá entra antes do tempo
e eu só volto ao serviço amanhã de manhã

segui a montante o conselho proferido
e vi a um canto sentado numa cadeira
de cigarro na boca e um copo na mão
o velho coveiro da aldeia

acenei e segui caminho


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