partilha

curiosamente
enquanto a tarde se derramava lá fora
e os dois bebíamos há várias horas junto à janela
partilhaste um sonho que tinhas tido na noite anterior

disseste

eram cavalos em fogo correndo ao longe
um fogo de água que deixava um rastro de espuma sobre a areia

na verdade
contrapus

esse sonho foi meu
lembro-me dos equídeos e dessas chamas oceânicas
desse deserto arenoso junto ao mar

quando os copos se esvaziaram e nos despedimos
concluímos ambos que era melhor passar a noite em branco
partilhar uma insónia em vez de um sonho
dedilhar inquietações e evitar estas vulnerabilidades

já no passeio depois de nos encolhermos cada um para dentro de um cachecol
selamos a promessa
nenhum de nós revelaria mais os seus sonhos
e que se durante o sono por um acaso nos encontrássemos
representaríamos o papel de desconhecidos
seguindo cada um o seu caminho onírico



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