dia 238

a última vez ainda tudo era a preto e branco
as noites eram perturbadas pelo barulho intermitente de um frigorífico velho no quarto
a cama quente demais e as manhãs tão longínquas que a insónia teimava como uma canção que não sai da cabeça
o tempo tinha mais tempo por dentro

agora
tudo diferente
as cores do abandono pintadas nas paredes
a cama sem colchão e um frigorífico desligado e ferrugento no chão da sala
o silêncio inconfundível das ruínas
o tempo não passa... o tempo já passou

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