dia 230

antes
nesta sala
três silhuetas de mulher e uns arcos compunham o cenário
havia também um quadro a preto e branco

hoje
outros quadros e janelas maiores abrem sobre o mar

as madrugadas são iguais
o som da televisão da vizinha
talvez mais carros rasguem o silêncio lá fora

mas
na verdade
a página em branco contém o mesmo abismo de neve quieta e muda
e cada palavra surge malgré moi como dizem os franceses
e os versos amontoam-se seguindo a regra da gravidade poética

o segredo está em insistir
insistir até que doa
e sobretudo
até que deixe de doer

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