mesmo sem palavras II

mesmo sem palavras todo o impossível acontece
secretamente
veladamente
por entre os silêncios mais subtis, como brisas, indícios, ecos

no infinito de sermos, de estarmos por aqui face ao fim do chão, na queda eterna de uma paisagem, a alma é quase palpável, maleável
e mesmo sem jeito ousamos manusear esse tecido divino da solidão, da mais profunda solidão, como se a melancolia por momentos se ouvisse no ar

mesmo sem palavras, existes, tu e todo o estremecimento que me lanças, como um rumor de dentro, um vulcão invisível

na mudez do cosmos, na incomensurável lonjura das cassiopeias, no mais escondido canto do mundo, a possibilidade de todas as coisas jaz, ainda que ténue, ainda que esmorecendo a cada instante

a esperança é a última coisa a morrer, seja a esperança das coisas belas como a das mais ignóbeis

mesmo sem palavras todo o possível não acontece nunca

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