testamento

deixo tudo
como tudo se deixa quando se apaga

deixo nada
como nada se deixa quando se some

e o meu testamento é igual ao de todos os homens
vazio e silencioso
um infinito de nada

certamente ecos do que fiz permanecerão algum tempo
vibrando na lembrança de alguns
mas tudo o tempo consome
tudo o tempo dilacera e fulmina

a própria carcaça mingará até ser pó
até regressar à quietude que é definitiva

deixo tudo e deixo nada
as próprias palavras espelho disso mesmo
som e silêncio
ideia e deserto
finais e fúteis

Sem comentários: