o que cobre parte da tela é uma sombra perfeita
desenhada no pretérito pela passagem de luz por uma jarra sobre a mesa. o que sobra é a alvura do inexplorado
é o reflexo total da gama cromática
revelando
por isso
o branco restante do quadro
o desenho em penumbra da jarra vai movendo-se ao ritmo do sol
(na verdade o que se move somos nós e todo o globo na translação)
e esse movimento varre durante horas toda a tela ensombrando um lado e desensombrando outro onde antes jazia. a sombra é firme mas não tem a densidade da noite que virá mais tarde
ela desenha o contorno definitivo da silhueta da jarra em pequenas nuances de cinza.
por fim alguém pousa um outro objeto sobre a mesa e uma sombra maior projeta-se sobre a tela cobrindo o esboço de jarra
sombra sobre sombra
mais densa agora mais parecida com a noite
sombra sobre sombra tecido de breu
de treva
do quadro fica apenas um canto branco tudo o resto enoiteceu como se o silêncio se desenhasse e se fizesse traço
mesmo que tudo seja luz
fotões átomos
sombra de sombra
cisma
poeira estelar
combustões cósmicas
poesia
tu
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