mesmo sem palavras

gastaram-se todas as palavras, nos seus lugares largos desenhos de gestos vazios e olhares distraídos, a chuva caindo sem parar há mil anos, o silêncio profundo das almas mudas semeadas pelas ruas
 
sem palavras ou apenas as ruinas do que foram, a quietude é imensa e sob a chuva velha reina uma paz ignorante, esvoaçam os desenhos e silhuetas dos acenos e perdem-se ao longe no firmamento os olhares do mundo inteiro
 
melodias secretas ondeiam pelas esquinas, o tempo feito bruma esfumando-se pela madrugada até nascer o dia definitivo, final, derradeiro, lançando sobre o oceano toda a luz imaginada, estrelando o mar em mil sóis irrequietos
 
mesmo sem palavras dizem-se coisas, pensam-se ideias, amam-se sonhos
mesmo no mais ruidoso silêncio fulminam-se emoções, daquelas que corroem os espíritos, que enlouquecem os seres
 
mesmo sem palavras todo o impossível acontece
 
 

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