entre o fado e a morna

entre o fado e a morna
procuro o acorde do início
bebo sozinho e espio a tua fuga

sou guardador de nadas
de sopros e de sombras
mestre de coisas que se esfumam
de memórias que não chegaram a ser
e de sonhos ainda por sonhar

entre o fado e a morna
sigo um funaná
simulo uma alegria e ao mesmo tempo uma tristeza

sou rei da pose
até cair num canto com a garrafa meia vazia

o fado nem aparece
impõe-se a morna como um bolero da alma

ignoram-me os corpos que dançam
nem sabem que comungo com eles no meu sono ébrio

faltam-me os teus caracóis pousados no pescoço
e a tua curva que balança e me embala

fica a noite inteira pela frente
para que a saudade dance comigo e com a garrafa já vazia

Sem comentários: