dia 41

quando alongas as madrugadas e elas parecem infinitas
e o grande deserto branco das folhas estende-se com elas
sem voz para ditar uma sombra ou penumbra que seja sobre esse horizonte imaculado

o silêncio é tão denso que ganha a textura dos óleos
e o teu corpo ensebado e desconfortável vai-se afundado nas horas lentas do tempo

tens os ataques febris crónicos e as alucinações fatídicas dos arrependimentos das promessas por cumprir

mas aos poucos
a golpe de estar vivo e disso ser um milagre
acontece a faísca de uma qualquer esperança
e num ápice
na comoção inesperada de um assombro
é todo um incêndio que deflagra na imensidão da quietude
e até ser dia ardem as grandes chamas da poesia e do amor e da liberdade
arde tudo e o não-tudo até finalmente sucumbires numa cama de cinzas que possa amparar a queda vertiginosa do teu sono


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