dia 34

não sabes bem onde nem quando nem porquê
mas há um momento preciso e exacto e definitivo em que afloras o alento de um verso
como aquela preguiça inicial de quando acordas
um leve tremor da alma que te percorre as costas até se espraiar no abandono de um pequeno suspiro mais

e por vezes
só por vezes
tens a sorte de o alcançar e recolher como uma folha que se desprendeu da árvore
ou como uma traça desmaiada após um excesso de luz de candeeiro em noites densas de breu

já o disseste mil vezes e mil vezes o dirás de novo
não escolhes nada disto e nem sequer és escolhido
trata-se somente da força das inevitabilidades

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