houve um tempo de sol a entrar pela janela da sala
iluminando os quadros e desenhando sombras sobre as paredes
havia o mar ao fundo sob um céu de azul intenso
enrugado de prata, estilhaçando a luz em mil reflexos
as horas a passar devagar ao ritmo do silêncio
tu e toda a quietude desse cenário
a profunda melancolia da solidão
da espera
houve um tempo de noite a esgueirar-se sobre o sol
a cobri-lo aos poucos levando-o para lá do horizonte
deixando sobre a mesa da sala toda a poesia possível
todo o teu atabalhoamento com as palavras
esse doce jogo de literatura que te enganava
tanto parecendo infinito como perecendo no mesmo instante da leitura
houve um tempo de madrugadas eternas
o firmamento insistindo em escuridão largas horas
e a tua insónia enraizada nas páginas alvas dos cadernos
houve um tempo de manhãs pálidas
esgotadas por noites em branco
manhãs deitadas em camas por fazer
onde te encolhias e finalmente dormias
ou algo parecido com dormir
adiavas-te esperando um futuro imaginado
conquistado por dentro mas deserto por fora
como todas obras por criar
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