o gesto perfeito que teima em adiar-se num perpétuo esquecimento de si mesmo
e não será num entretanto vazio que se poderá revelar
ainda assim insistes em escrever a cada momento perdido do dia como se enchendo de palavras o silêncio ele fosse menos arrebatador e as noites menos solitárias
já não tens mais promessas a quebrar pois esgotaste os estilhaços de todas as outras que fizeste e a loucura que brota de uma promessa quebrada é tão grande como a que nasce de uma que se cumpre e no teu mar não há mais lugar a novas ondas porque todo ele é somente ondas revoltas e revoltadas
o gesto perfeito aguarda quieto num canto qualquer da sua própria impossibilidade e nada o alcança
ele é halo de sombra e de cinza luminosa
é fumo
espuma fina
é um segredo que ninguém sabe
e saber é o conforto que a evolução nos nidificou nos genes
por isso nos contorcemos quando não sabemos
e nada sabemos de verdade e o desconforto é o estado permanente da nossa alma
por isso desejamos os gestos perfeitos
ansiamos esse afago divino como o colo de uma mãe ou um beijo de quem se ama ou o calor morno de uma cama
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