procuras o local exato onde semear a palavra para que faça sentido
nas esquinas altas de uma catedral, arrancada ao granito e ao calcário
cortando o céu em contraluz
seria o sítio natural da aparição
mas as gárgulas que queres escrever são silhuetas perdidas em profundos mares da alma
esgares petrificados em proas de barcos naufragados mil noites atrás
são ramos de uma árvore, que morta de pé, em vez de folhas, brota cimalhas por onde corre a água de chuvas impossíveis
gárgulas
dizes por dentro
e toda a língua estremece num calafrio perfeito
o silêncio tem o seu alfabeto e o seu dizer
nós é que o não conseguimos ouvir
pois surdos somos caminhado sobre o vibrar do tecido da poesia nas madrugadas que não acabam
como se a insónia durasse eternidades
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