às portas do deserto, perante mais um infinito que me calhou em sorte, duas sílabas inundaram-me a alma
brotaram com a força das inevitabilidades e ressoaram por dentro
ecoando num aperto que já conheço do passado mas que é sempre novo
a paisagem arenosa e o sol a cair no longe do horizonte, o silêncio profundo
tudo isso incompleto
fazias falta
não nós, mas tu
a ideia de ti e do teu pronome vazio a resvalar-me pelos olhos e pelos dedos como os incontáveis grãos desta praia sem mar
depois o sol pôs-se e foi como se mil anos passassem desde essa fugaz solidão da partilha
será tudo isto normal e inocente
das duas sílabas fica a tatuagem invisível
como cicatriz por baixo da pele e da língua
qual código genético póstumo
2 comentários:
Adorei
Obrigado.
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