nas cartas ou poemas de amor
escrever o que se sente ou sentir o que se escreve
dessa escolha dois caminhos se revelam e ambos levam ao despenhar da alma num poço sem fundo
dessa queda imensa o ponto de não retorno chega célere
tal como a luz de um vitral que nos chega ao olhar, que é essa luz mais a soma do vitral que a coou,
o amor é o sentimento mais a alma que o irmanou
encontrei este verso num canto
talvez possamos deixar as sombras para trás e caminhar em luz translúcidos
e poderia agora escrever o seu contrário
talvez possamos deixar a luz para trás e caminhar em penumbra ensombrados
nas vagas da escrita muitos são os náufragos e muitos são os estilhaços de sol no espelho das suas águas
e infinitos silêncios cobrem imensidões sem praias e sem terra à vista
talvez possamos deixar luz e sombra para trás e caminhar sem nunca termos existido
dessa forma
cartas
poemas
de amor
seriam o ponto de não retorno
a cicatriz tatuada e cravada para sempre
como aquele pequeno corte que temos no céu da boca e que não sara nunca pois não saram as feridas assim
quais umbigos
e divago pois há muito navegam-me as palavras sem rota nem rumo pelos dedos
como os ventos que se enlaçam primeiro por entre ramos altos de árvores caducas e depois se emaranham em folhas que se soltam em suaves e longas e pesarosas quedas
cedo
por fim
à desordem natural das coisas
e deixo de escrever
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