Sérgio disse que não lhe interessava o caso. Aprenderia a pensar mais tarde, quando velho. Na hora das arrumações.
- Sim amigo, eu não sinto, porque entendo; com você, tudo se passa ao contrário. Compreender é ser claramente tolerante com o que em nós não é o o que de momento somos.
- O senhor doutor não está? - perguntou-me a criada, mostrando o papel. - Talvez seja de importância.
Para Sérgio. Provavelmente, de Churrasco. E como em Churrasco um telegrama é coisa grave, fui ao liceu. Sérgio vinha justamente ao portão com um sujeito baixo, magro e acabrunhado. Pela nula importância.dada ao homem, ou ao encontro, ou a mim, não nos apresentou. Tomou o telegrama e continuou embrulhado na conversa que trazia de dentro. O outro sentia-se decerto em justiça, na sua humildade, porque mal ergueu a cabeça.
- José Pereira! Mas é um nome monstruoso! Como é que um José Pereira é professor? E raciocina?
- Se não ficas outro, descobrindo-te, enquanto lês, não há explicação possível. Não há poema. Há caracteres impressos. Não se ensina a entender poesia como não se ensina a ser poeta. Ninguém ensina ninguém a ter olhos pretos ou azuis.
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