dia 320

ela escrevia coisas
eu bebia café
a manhã era de luz e a preguiça de domingo

e este cenário imaginário desfalece
porque até o que se inventa alguma substância terá de ter para que se sustente

ela não escrevia coisa nenhuma
e o café que bebo sem açúcar nunca mais me soube tão bem como quando o adoçava
nem amanhece e chove sempre num cansaço derradeiro

mas até este descenário se esfuma
pois também ele não carrega uma voz dentro da voz

ela não escreve é certo
mas o café puro e negro conquistou-me
e as manhãs são tardes onde o corpo repousa

o sentido disto é o de sempre
um verso de cada vez
um verso
por cima do outro

Sem comentários: