O passado será um país distante repleto de neblinas.
Houve quartos povoados apenas por uma cama, uma secretária, papéis com versos e, por breves horas, por um corpo de mulher. Quartos cujas manhãs se esvaziavam de ti e as rugas dos lençóis desenhavam estranhas formas sobre o colchão. Janelas por onde a claridade era fatiada por persianas meias fechadas, criando contornos de sombra e luz sobre as paredes. O silêncio era imenso mas leve e o aroma do calor da noite prolongava-se até tardias horas. Por vezes regressavas e fazia-se noite de novo e tudo recomeçava renovado, como se nunca nos tivéssemos tocado, beijado e amado. Amávamo-nos como estranhos de cada vez, sem preconceitos, sem antes, sem antecedentes, como uma página em branco, novos rabiscos, novas tentativas, novo ensaio.
E no fim uma vez mais o quarto e a quietude familiar das manhãs vazias, vazias de ontem e cheias de brilho, de promessa de mar para lá do vidro, da janela e da estrada. Cafés do lado de fora esperando uma bebida.
O passado será um país distante repleto de neblinas, ficam os textos antigos aqueles que se salvaram. Os outros que se calaram descansam então nesse país distante entre nevoeiros e amnésias. Certeza é que um quarto vazio de nós existe algures, nenhures, em zero absoluto.
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