A casa era velha. A velhice revelava-se no musgo crescente que invadia as dobras da pedra e da madeira. Mas sobretudo no rumor de abandono que circulava entre os corredores escuros e os quartos desertos. A cozinha era apenas uma banca de caruncho e uma mesa manca a meio. O salão quieto e silencioso dormia ao sabor das cortinas rasgadas. Todo o mobiliário coberto de pó e de uma ocasional teia de aranha já gasta. O peso do tempo vinha abater-se sobre o chão nu de carpetes, escorrendo do teto e dos quadros tortos nas paredes. Lá fora o jardim eram silvas e folhas acumuladas de muitos outonos. Um dia toda o jardim engolirá a casa, e de velha que é tornar-se-á húmus e orgânica, comida de bichos, vaso de plantas, ténue desenho do que foi outrora. Noutro dia ainda, mais há frente no desenrolar das eras, o mar inundá-la-á. E se ousarmos imaginar épocas ainda mais futuras, o cosmos encarregar-se-á de tudo engolir num tufão celestial de estrelas e galáxias em movimento até ao aniquilar final. Nem as palavras sobreviverão a esse cataclismo. No fundo, o silêncio derradeiro da casa velha já há muito foi pronunciado.
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