Do sangue e da pedra


Do sangue e da pedra. No meu nome, bem no meio, vindo do lado materno, existe Rocha. Plantada assim entre o início do que me chamam e a herança paterna a rematar a graça. Assim, Rocha, bem no meio do Filipe e do Pinto da Silva. Rocha do Minho e do mar vareiro de Aveiro. Dos pescadores falarei um outro dia, hoje fico-me pela mineralidade minhota. Logo hoje, dia de solstício onde o sol se alonga um pouco mais do lado de cá, desenhando um ângulo perfeito por entre os menires lá mais do Norte.
A minha Rocha vem de terras húmidas e verdes, isoladas entre serras e matas, semeadas desses pedregulhos enormes carregados de nevoeiros místicos. Terra também de druidas, de celtas, de silêncios rasgados por uivos de lobos, pássaros solitários e ribeiras teimosas a cair em escarpas.
Rocha feita pedra, imóvel na aparência pois foi-se lançado pela eternidade dos homens que pariu nos princípios, ecoando agora em gerações que se afastaram, é certo, como eu, mas cujo sangue carrega esse calhau primordial, radical. Essa Rocha do início, do zero absoluto. Rocha etérea, pesando mil toneladas, viajou já milénios e muitos mais viajará ainda.

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