num só fôlego

num só fôlego ou em vários mas que no fim sejam apenas um como se as palavras se agarrassem umas às outras a evitar a queda de um precipício de mãos dadas no limite delas próprias num desespero profundo de resistência a quererem dizer o que dizem que é sempre mais do que o que vozeam como as sombras gigantes daquelas árvores míticas ou como as ondas do mar que se espraiam na imensidão da costa ou ainda os desertos silenciosos das camas desfeitas nos quartos abandonados pelos amantes apressados em ir trabalhar ou finalmente na quietude de uma estante repleta de livros a ganhar pó e atraso de leituras adiadas para sempre aquele sempre definitivo muito antes de acontecer de facto
escrever é ainda um acto sagrado de comunhão com o insondável
ou não
será somente encadear letras e esperar que a lotaria da literatura sorteie o milagre do acerto do que se tem a dizer

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