Ele disse-me que "algures, no passado" tinha abandonado a poesia. Disse-me que tinha de a abandonar, que "o caminho era perigoso". Foi por uma questão de sanidade, disse. Tinha uma forma de dizer estas coisas assim, metida no meio de tiques com as mãos, gestos imprecisos que levavam a cigarrilha à boca num equilíbrio precário.
Eu, a ele disse-lhe o contrário, que procurava a poesia, que queria muito inundar-me nela, que sentia uma necessidade profunda de fazer versos... mas que depois, não os fazia. Como se adiar fosse parte já dos versos.
Ele percebeu, disse que era assim mesmo. Que a poesia não é nossa, é etérea, volátil e fodida.
Acedi. Calei-me. .
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