os finais de tarde, as noites, as pausas e os silêncios
carimbados em versos que vertias numa sala virada ao mar
na penumbra fina de um certo modo de seres solitário, de seres para lá de ti, de existires para lá disto e daquilo,
como se o prolongamento das palavras te levasse também para esse outro lugar, na sala virada ao mar,
na simulação de uma pose de artista, na ilusão da pureza dos gestos simples, de um sussurro de lápis sobre o branco do papel ou da cadência das teclas do piano da escrita,
tudo isso revisitado agora,
nos papéis que guardaste quer em sacos de plástico, quer em sacos de memória, quer em sacos de invenção,
a sala virada ao mar, na busca da frase certa, do pensamento exacto, do descanso da consciência ou do rasgo iluminado de uma declaração de amor que pelo menos
ao de leve
chegasse a ela, ou a ti, ou a vós
porque sempre escreveste como se deve amar
porque sim
sem mais
sem menos
com tudo e com nada ao mesmo tempo
da sala virada ao mar
os finais de tarde, as noites, as pausas e os silêncios. .
Sem comentários:
Enviar um comentário