Eram tardes e tardes e tardes. Havia uma rua em plano inclinado, uma porta de garagem velha a servir de baliza, o Zé da Ilha, os meus dois primos e eu. Jogava-se ao Ceguinho (consistia num guarda-redes que atirava a bola de costas, e dois jogavam contra um, o primeiro a chegar aos três golos ganhava e não ia à baliza). Lembro-me que nos primeiros anos, a altura da “baliza” não era a porta por inteiro devido a sermos ainda demasiado baixos, o que muitas vezes acabava em discussões sobre validações de golo. Passavam poucos carros, mas ainda assim obrigavam a paragens. A Cilinha, vizinha da minha avó, vinha à janela para se meter connosco e dizia que ia chamar o 115 por jogarmos à bola na rua. A bola essa, ia parar muitas vezes aos quintais dos vizinhos. Nalgumas casas avançávamos os muros um pouco a medo, noutros tocávamos à campainha ainda mais a medo. Quando a bola ia para a casa da Dona Carolina, era gritar “Dona Caroliiiiinaaaaa”. Sujei muita roupa com óleo por a bola se enfiar debaixo de carros. Os intervalos para o lanche eram três ou quatro pães com manteiga e leite achocolatado. Quando ia à baliza usava muitas vezes um dos chapéus do meu avô, já nessa altura tinha muito estilo. O guarda-redes era também árbitro. Festejava-se golos como na televisão. Quando calhava de haver almoços de família, o meu pai e tios vinham jogar também, eles que já conheciam aquele “campo” de cor das suas próprias infâncias. O meu avô gostava de ver mas só lhe lembro dois ou três remates, se tanto. A porta da garagem que nem era nossa, envelhecia todos os anos. De cada vez que acaltroaram a rua (umas duas ou três vezes), dizíamos que tínhamos relvado novo.
Fomos crescendo e deixando de jogar, hoje a porta velha foi substituída, passam muitos mais carros e autocarros, naquela rua já não vejo ninguém brincar. É assim, e não está mal, os meus primos, o Zé da Ilha e eu, fomos os últimos craques dessas tardes infindáveis, isso ninguém nos tira.
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Fomos crescendo e deixando de jogar, hoje a porta velha foi substituída, passam muitos mais carros e autocarros, naquela rua já não vejo ninguém brincar. É assim, e não está mal, os meus primos, o Zé da Ilha e eu, fomos os últimos craques dessas tardes infindáveis, isso ninguém nos tira.
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4 comentários:
Doces memórias...
Nesse tempo éramos felizes e não sabíamos.....
Grandes memórias primaço!!!
São tantos episódios que me ocorrem... E nenhum deles infeliz. Desde os bonés do avô, ás luvas de lã para o g.redes, passando pelos nomes de jogares q escolhiamos para nós proprios, tudo eram detalhes deliciosos vistos a esta distancia de 20 anos.
Gosto muito dos memória futura...
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