Perdi um pequeno caderno onde escrevia. Não sei, perdi-o. Não que o tenha procurado muito, mas a verdade é que não está nos três ou quatro sítios onde pensava que pudesse estar. Um acontecimento destes há uma década atrás, ter-me-ia naufragado a alma. Andava eu, nessa altura, agarrado ao que escrevia (que não era assim tanto) como se fosse parte de mim.
Sendo agora, até me parece que essa perda me agrada. Igual aos mitos dos grandes poetas que acendiam cigarros e charutos com os poemas que escreviam, ou as inúmeras lareiras que ardiam em literatura para sempre perdida.
Um verso que arde ou que se perde de vez, é um verso que se cumpre definitivamente. Se escrever é atear uma chama ou perder-se irremediavelmente nela, nada melhor que um incêndio ou um esquecimento para que o destino se realize totalmente.
Do silêncio nasce ao silêncio regressa.
Concebamos todas as leituras que nunca chegaram a ser, todo o silêncio sobre o silêncio, camada e mais camada, pele sobre pele de corpos mudos.
Reencontrei o caderno. As palavras nos sítios onde as deixei, não ocorreu o milagre de alguém as reescrever. No fundo, perdidas já estavam elas e perdidas continuam. Para além de um incêndio, a poesia é uma perdição constante. Ela é um lento voo de pássaro sem rumo.
Concebamos todas as leituras que nunca chegaram a ser, todo o silêncio sobre o silêncio, camada e mais camada, pele sobre pele de corpos mudos.
Reencontrei o caderno. As palavras nos sítios onde as deixei, não ocorreu o milagre de alguém as reescrever. No fundo, perdidas já estavam elas e perdidas continuam. Para além de um incêndio, a poesia é uma perdição constante. Ela é um lento voo de pássaro sem rumo.
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