Dizia o Cohen que tem de haver uma fenda e que é por lá que entra a luz.
There is a crack, a crack in everything. That's how the light gets in.
Talvez as fendas estejam por todo o lado.
No céu.
E por ela chove uma torrente de palavras ilegíveis que se acumulam em versos dispersos nas ruas vazias.
No olhar.
Não sei que luz arde nos teus olhos nem que incêndio é esse, mas seguramente provém de uma abertura junto à alma e é por lá que ela se escapa com seus lumes e lavas, avançando pelas íris em labaredas cor de mel.
No espaço entre quem se ama, onde o próprio ar se lasca e estilhaça com mil sóis a reluzir e a vibrar em sombras luminosas, caleidoscópios derramados por paredes imaculadas.
Nas palavras, a seiva que percorre lentamente letra a letra, sílaba a sílaba, até brotar na ramagem infinita de significados.
A fenda por onde passa a luz, camada a camada, feixe a feixe, serpenteando no ar, bailando em suspensão de poeiras finas e loucas, qual poção mágica de alquimistas e druidas.
A fenda, a ferida, o acaso necessário para que passe luz, para que se faça luz numa quebra qualquer no manto que tudo cobria até alguém ter escrito um verso ou dado um beijo.
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