Paraíso Infantil


Acho que já escrevi sobre ela antes. Mas agora nem é bem sobre ela que escrevo.
Na avenida da Boavista havia um infantário chamado Paraíso Infantil. Andei lá dos 3 aos 5 anos e esta fotografia, tirada hoje durante uma corrida matinal, leva-me a voltar ao tema.
Lá encontrei o meu primeiro amor. Chamava-se Suana era loira de olhos azuis e vivia nos prédios brancos. Isto do era loira de olhos azuis e vivia nos prédios brancos ficou tatuado no meu dizer até aos dias de hoje, como uma expressão idiomática orgânica. No fundo, não há outra forma de eu a mencionar (nunca mais a vi, e isso não é importante, pois revi-a em alguns outros rostos e belezas)
E o que me espanta é que aos 3 anos já era possível o amor. Não a correspondência do mesmo, isso é, ainda no presente, um mistério por desvendar, mas a ideia do amor perante a beleza. Sabia-o, já nessa altura de criança, que no pasmo da alma perante a beleza, a absoluta rendição era possível. E tudo isto é algo de subjectivamente abstracto mas real, como uma vertigem no corpo e no âmago do espírito. E se me explicasse melhor, diria que é algo meu, algo que senti nessa altura diante uma "mulher" demasiado bonita para que o olhar pudesse suster tamanho assombro. Não é sequer um sentimento, é um sismo silencioso, um arrepio. Um reflexo.

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