o gato a ser gato
eu a ser eu
tu a seres tu
o gato sendo gato
é o gato mais a curiosidade que lhe eriça o pêlo
e uma ou outra cambalhota mais no meio da sala
eu sendo eu
sou eu e pouco mais
o que já não é pouco num pedaço de gente
mas tu sendo tu
és tu mais o teu sorriso a mergulhar em mim
tu mais o teu corpo desenhado em sombra
tatuado em meu olhar
tu mais tu mais tu
imensa em mim
no que escrevo
e
no que não escrevo
pois tu és tu
e sendo tu
és também o silêncio na tua ausência
és lugar vazio certas manhãs
és ternura no sono que me calhe velar
tu sendo tu
és um infinito tal que me tolda a vista da escrita
e me remeto a uma rendição anterior a mim
porque eu, sendo eu
sou eu e pouco mais
o gato sendo gato
é gato também quando dorme
é gato enroscado enquanto escrevo
e tu és tu
e não há pronome que chegue para te nomear
nem nome sequer
nem palavra
nem nada
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