Ouvi histórias, algumas. Do lado da minha mãe e do lado do meu pai. Da mãe são histórias de vareiras por um lado e de lavradores por outro. Das vareiras a imensidão de filhos, do mar, dos lutos. Dos lavradores um tio-avô ou bisavô que foi morto por engano numa espera que correu mal. Um bisavô que morreu exactamente um ano antes de eu nascer e que tinha por hábito quando vinha lá do Minho ao Porto, ficar na avenida a contar os carros que passavam durante horas. Do lado do pai um bisavô que tinha duas famílias e que as manteve. Um que era estucador de tectos. Uma bisavó que caiu pelas escadas ao separar dois netos que se pegaram.
Dos antepassados ouvi histórias. A eternidade é isso, palimpsestos, farrapos dos ecos, mentiras novas sobre verdades antigas. Até sermos silêncio.
Sem comentários:
Enviar um comentário