Foi dito, e é sabido, que existe no universo mais espaço vazio do que preenchido. Entre os átomos, as moléculas, os elementos e em todo o infinitamente pequeno existe o limbo da matéria, o mar de pequenos nadas. Explicam, aqueles que sabem, que nada verdadeiramente se toca. Mas ainda assim, a nossa humanidade sabe bem que algumas coisas se tocam, têm forçosamente de se tocar. Se não como se explicam os estremecimentos da alma, os assombros do espírito, as vertigens profundas dos seres? E não, o campo electromagnético não explica tudo. Tem de haver uma onda invisível e indizível que percorre o tecido do mundo e da existência. Tem de haver poesia nos olhares que nos arrebatam e apenas as palavras certas a podem nomear. Tem de viver algo nos gestos de carinho ou na promessa dos mesmos, até mesmo no adiamento do afago que quase desenhamos. A certeza inabalável de que nesse espaço vazio onde nada vagueia haverá um rumor feito de outra voz, um eco cuja vibração não se mede com nenhum aparelho que não seja a rendição do corpo perante a promessa da beleza momentânea de cedermos, de sermos mais que nós mesmos, ou talvez de deixarmos de ser o que quer que sejamos para passarmos a ser uma outra coisa.
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