Quando começo a escrever o céu está azul quase por todo. Algumas nuvens deslizam devagar no alto. Uns quantos arquipélagos de algodão a revolver no firmamento. Antecipar-lhes o desenho certo no momento exato do fim da prosa é tarefa complicada, pois se agora parecem barcos, basta uma sílaba mais e em pássaros se transformam. E outras sílabas mais à frente em abstrações de árvores se desenham. A metamorfose das nuvens é mistério com segredo bem guardado. Recordo Herberto Hélder e o peixe que ia mudando de cor à medida que o artista o ia pintando. No fim, pintou o peixe de uma cor que ele ainda não tinha. Talvez neste céu, estas nuvens, no fim disto tudo, descansem com o teu desenho, o teu rosto de perfil, desvanecendo em azul e em ocaso.
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