Dos textos que não escrevo há um de que gosto particularmente. Outros nem por isso. Sei que nisto de andar por cá sem escrever é apenas o adiar do inevitável. Pressinto que no exacto momento antes do Apocalipse me obrigarão a escrever tudo o que não escrevi. Como aquela história, já não sei de quem (Llorca, Marquez?), de um homem em frente a um pelotão de fuzilamento que pede o desejo de viver não sei quanto mais tempo (um dia mais, ou anos, não me recordo). As balas imobilizam-se logo após os disparos e todo o universo estagna, esse homem incluído. E ele vive o tempo a mais que pediu, assim mesmo, de frente para o pelotão e as balas imóveis no ar. Quando finda o tempo desejado, tudo arranca de novo e as balas cravam-se nele, matando-o. Do que me lembro, e é pouco, resta apenas a ideia da inevitabilidade, de um fatalismo profundo mas que de tanto o ser, se esvaziou, nem dramático é.
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