Um sopro para cada um

Passaremos o resto do tempo a olhar pela janela. A questão é que o tempo tem dificuldade em esgotar-se e as janelas não duram para sempre. Nem o que por elas se vê. Se o tempo não se foguear por completo, corremos o risco de ficar sem janela e sem paisagem. Então estaremos sós, apenas com tempo. A monotonia é um veneno lento cujo antídoto se afasta exponencialmente. A melancolia essa, inunda a soluços brandos, mas não poupa ninguém.
Passaremos o resto do tempo apressados, mas um relógio sem ponteiros não significa que Cronos se tenha distraído, mas antes que se escondeu. Revelar-se-á ao espelho, em cada ruga nova, em cada ferida de alma já tatuada no nosso poço fundo.
Passaremos o resto do tempo em silêncio perante o abismo do porvir. O porvir que se adia a cada dia porque o futuro é longe, o passado é amnésico e o presente escapa-se-nos da percepção.
Descansemos, outros já passaram por isto. Uns sobreviveram outros não. Mas nenhum, sem excepção, ficou indiferente. Mesmo os que partiram, ecoarão sempre nas paredes do universo. Se há coisa em que acredtio, é numa sala de arquivo cósmica com a história de cada um, existe algures no ADN das coisas, ou mais dentro ainda, como um sopro. Um sopro para cada um.
.

Sem comentários: