Isto não é sobre futebol.
Da liberdade
Onde escrevi "renovar o 25 (de Abril)" não falo na retórica, nem nos argumentos mais contaminados ideologicamente, mas naquele cerne fulcral da liberdade. A liberdade é uma palavra cara que se usa a rodos. Não é um mal em si, mas convém não esquecer de que barro é feita, qual o seu significado ipsis verbis. Renovar a liberdade não é mudá-la, é simplesmente lavá-la e recuperar-lhe um certo brilho helénico e poético. No fundo é lembrar os humanistas das luzes também. Um ser livre não é um programa nem um cálculo, é uma forma de andar de direito, sem preconceitos mas com moral, sabendo, ainda assim, que a Moral não é tudo na vida.
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25 de Abril
Passou o 25 de Abril, mas não passou. O próprio 24 de Abril vai apenas passando, a custo. Sendo certo que o 25 aconteceu e ajudou a ultrapassar muito do 24, é certo também que algumas coisas do 24 permanecem. Mas permanecem coisas também do 25. Estamos assim, presos a restos de 24 e a ingenuidades do 25. O grande passo é chegarmos a 26 de Abril, deixar para trás de vez o 24, renovar o 25 e, finalmente, podermos viver os dias seguintes.
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Alguém olhará por mim
Alguém olhará por mim, é o nome da peça que fui ver este sábado. Sendo adaptada do inglês, o humor (entre outras coisas) do autor irlandês chegou apenas aos soluços, mas tatuou-me incondicionalmente a vontade de comprar a peça no original. Não é uma comédia, mas o melhor do humor irlandês está precisamente nos dramas e não nas comédias. Não sou um grande adepto do teatro, mas sou um grande adepto da leitura de teatro. Esta peça, humana, terrivelmente humana, é daquelas coisas universais que não encontro muito na literatura lusa. Os anglófonos e francófonos chegam lá muito mais vezes, retratando com crueza o esqueleto da alma. Alguém olhará por mim é uma peça criada com a maior das coragens: a entrega.
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Um sopro para cada um
Passaremos o resto do tempo a olhar pela janela. A questão é que o tempo tem dificuldade em esgotar-se e as janelas não duram para sempre. Nem o que por elas se vê. Se o tempo não se foguear por completo, corremos o risco de ficar sem janela e sem paisagem. Então estaremos sós, apenas com tempo. A monotonia é um veneno lento cujo antídoto se afasta exponencialmente. A melancolia essa, inunda a soluços brandos, mas não poupa ninguém.
Passaremos o resto do tempo apressados, mas um relógio sem ponteiros não significa que Cronos se tenha distraído, mas antes que se escondeu. Revelar-se-á ao espelho, em cada ruga nova, em cada ferida de alma já tatuada no nosso poço fundo.
Passaremos o resto do tempo em silêncio perante o abismo do porvir. O porvir que se adia a cada dia porque o futuro é longe, o passado é amnésico e o presente escapa-se-nos da percepção.
Descansemos, outros já passaram por isto. Uns sobreviveram outros não. Mas nenhum, sem excepção, ficou indiferente. Mesmo os que partiram, ecoarão sempre nas paredes do universo. Se há coisa em que acredtio, é numa sala de arquivo cósmica com a história de cada um, existe algures no ADN das coisas, ou mais dentro ainda, como um sopro. Um sopro para cada um.
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O exagero
Isto não é sobre futebol. Mas.
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Ontem, em Milão, assistiu-se a um paradigma: o Barcelona perdeu um jogo por aplicar a sua filosofia futebolística para lá do razoável. Como Aquiles quando escolheu a guerra. Como Sócrates quando aceitou tomar a cicuta. Como Romeu e Julieta. Como os românticos. Como certos homens e mulheres mergulhados em orgulho ou dignidade.
O exagero, mesmo das qualidades, leva, inevitavelmente à morte..
Do vulcão
O vulcão não é um aviso sobre um possível fim do mundo ou a nossa frágil condição perante as forças da natureza. O mundo há-de acabar, é algo que está escrito desde o início, não só inscrito nas constatações da ciência como também nas mitologias das crenças. O mundo há-de acabar.
Nós acabaremos antes. Não sem a luta da sobrevivênca que nos foi tatuada nos inícios dos inícios (a nós e a todas as formas de vida). Essa luta está perdida logo à partida mas algo nos compele a não abdicar. Não ponho nisto nenhum tom trágico, a vida continuará algures de uma qualquer forma e o universo há-de parar de se expandir para se recomprimir de novo até à nova explosão cósmica. Creio profundamente que tudo se repete. Menos cada um de nós. Ainda bem, a poesia é assim bem melhor.
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Numenclatura
O nome do vulcão islandês (isto de atribuir nacionalidades a vulcões!) é Eyjafjöll e está situado no glaciar Eyjafjallajökull. Com nomes assim só podia dar nisto.
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A ilha
Por ali sobe-se do mar até casa da minha avó. É a porta da ilha. Ilha paradisíaca da minha infância.
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Nada de nada
As coisas não são o que são. As coisas são o que são mais o que lhe metemos dentro. Cada gesto é vazio se não lhe metermos olhar em cima. A velha história da árvore que cai na floresta, fará barulho se ninguém estiver lá para ouvir?
Por outro lado, quem escreve sobre as coisas vazias? Escrever sem lhe metermos nada dentro? Nem que seja nada. Nada de nada.
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Até ao fim
Quase de regresso. Já repararam que tudo se está a tornar cada vez mais minimalista. Tenciono regressar em breve com a tentativa da tal recuperação do atraso. Quero regressar às fotografias também, e aos textos (literários e não só), e a vídeos.
Até ao fim.
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Até ao fim.
Tempos de penúria
Sim, são tempos de penúria bloguítica estes. E no entanto. A borbulhar por dentro com coisas para partilhar. Do aniversário já quase há um mês, passando por pequenos momentos de contemplação, a gestos, a músicas, a ideias. Mas a vida tem acontecido e contra isso não há espaço para o blogue.
Haverá, não sei é quando. Nem paciência vos peço. Apenas que cá venham e leiam, nem que sejam sempre as mesmas frases e desculpas.
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