o velho com amnésia

não me lembro daquilo que esqueci
e busco por entre o labirinto da amnésia
a memória de uma coisa qualquer que se me escapou

talvez não por completo
mas ainda assim pressinto que uma boa parte se foi

não sei se é irrecuperável ou se pode renascer
se pode de novo atear o grande incêndio que sei ter lavrado antes

quando vou lá atrás e vasculho
quando mergulho as mãos nas gavetas e recolho os cadernos
e os abro e atiro os olhos às leituras
revejo palavras que escrevi
dedicatórias que fiz outras que acolhi
e ainda assim não me lembro daquilo que esqueci
como se já não houvesse chão para esses passos 

eu amei fui amado
eu desamei depois
com afinco e dedicação pelo meu alienamento de ser tudo tão plenamente que acabei por ser outra coisa
e sendo outra coisa não fui mais o que tinha sido

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