que não havia mais nada a dizer
ou que o que havia a dizer não sabia como ser dito
ao largo surge o navio que é a poesia
de destino traçado em naufrágio certo
perdição e desencontro
mas nesse desterro
ainda assim
nesse fim submerso e silencioso
na vertigem final do derradeiro verso
há um regresso a casa
um lar primordial
o retorno a um lugar onde nunca estivemos
e que no entanto nunca deixámos
e nesse afogamento
a sede de infinitos não se mata nunca
porque a ânsia de vales e montes
de mares e marés
de céus e madrugadas e de cosmos é insaciável
até mesmo para lá do último sopro
para lá do último sonho
reverbera um intento insondável e indomável