um poema estava escrito

e a voz dela desceu como o sol nas tardes intermináveis de outono
feita de veludo e de abraço felino
um afago com acorde de piano

de pé olhava-a deitada no sofá
o mar a entrar pela janela infinita
a banhar-lhe a almofada de caracóis
os barcos ao largo num balanço subtil
voos de gaivotas no alto de um céu malhado aqui e ali de nuvens passageiras

o tempo a passar devagar
e as orquídeas eternas em em flor
os livros nas estantes a sussurrarem
um caderno sobre a mesa à espera de um verso

fiquei
aguardei que viesse

quando chegou
trouxe vários
e à mesa ficámos enquanto ela dormia

já não sei se bebemos ou se escrevemos
mas no fim
quando a noite já chegara
um poema estava escrito


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