pelos versos que escrevo desde sempre

é sempre assim
no limite da noite
naquele momento que passa a instante
no lugar ligeiramente ébrio das coisas
é aí que aqui chego

e chego inteiro e nu
despido de tudo e cheio de nadas

atabalhoado no explicar do que sinto
mas sobretudo do que quero dizer

mas não quero dizer nada
sinto somente
comungo

e para ser sincero
tudo isto resume-se a uma coisa

sinto a tua falta hoje
porque estás em Paris

fico-me pelo teu cheiro na almofada
e pelos versos que escrevo

pelos versos que escrevo desde sempre

tu

em tempos demorei-me no teu pronome
resvalei por essa silaba em tua busca
com a sede toda do meu amor por ti

disse-o em voz baixa na sala silenciosa da madrugada
ensaiando uma tua aparição repentina

escrevi-o milhares de vezes
repetindo-o até me doer a mão e o punho

quis tatuá-lo discreto no meu corpo
ele que se me coseu nos lábios e língua e que me incendiou os olhos

esse teu pronome
tão teu que contigo se confunde
como se já fosses também

tu