geografias

entre cada verso
o silêncio definitivo
vencido uma e outra vez até nos calarmos todos lá longe no infinito

palavra
grito
grunhido
uivo
saliva

são as geografias da poesia

palavra no horizonte calmo da manhã
grito no zénite da canícula
grunhido no arrastar da tarde
uivo no luar quieto da noite
saliva espessa nos pântanos da madrugada

a tua ilha no meu mar


a tua ilha no meu mar
curva num horizonte sem lua
erguida como a encosta de um rochedo
teu sono e meu velar
no silêncio das falésias definitivas
meu mergulho adiado
preso ao deslumbre por um fio tão fino que me despenho já
que me precipito sempre
irremediavelmente pendido
sorvido pela lei da tua gravidade
pelo canto do teu sono de sereia

a tua ilha no meu mar
eu submerso de ti
a dar com a maré baixa da tua praia
teu marinheiro
teu náufrago